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Foto do escritorInstituto Rota dos Parques

A arte ambiental e sua presença marcante em nosso dia a dia

Atualizado: 10 de mar. de 2019

Quando falamos em “fazer arte”, um mundo colorido vem à mente. A arte, uma das manifestações mais incríveis do homem, tem o poder de tocar os mais insensíveis ao permitir uma experiência estética diferente, impulsionando sua percepção e sua criatividade. A arte existe desde os tempos mais remotos e está aí até hoje porque queremos sempre mais e nunca deixaremos de ousar e criar novas formas de tudo, afinal estamos em constante evolução e nunca deixaremos de observar o meio que nos cerca, reconhecendo suas formas, luzes e cores, harmonia e desequilíbrio.


Imagine unir a diversidade do belo que vem da arte com alguns dos inúmeros elementos encontrados na natureza? Junte a isso tudo, o ingrediente emergente do ativismo ambiental e a vontade de mudar este cenário de degradação que vemos em nossas cidades. Teremos o resultado conhecido por Arte Ambiental (do inglês, Environmental Art), termo amplo que agrega um número de diferentes movimentos e práticas elaborados a partir do início da década de 70, mesma época em que as questões socioambientais tornaram-se pauta de discussões mundiais em virtude da urbanização crescente e da falta de contato do homem com a natureza. Além disso, haviam alguns entusiastas da criação dos estúdios ao ar livre, longe dos lugares fechados de trabalho. É.…, o lance da conexão com a natureza já, naquela época, fazia falta para as mentes criativas e também para a humanidade.



Ativistas do Earth Day, uma das bases para o avanço da Arte Ambiental.

Lives of Grass, de autoria de Mathilde Roussel. New York, 2010

Jiddu Krishnamurti


Um dos porquês de misturar arte e a preocupação ambiental se dá no próprio questionamento das intervenções humanas junto ao meio natural e da notória necessidade de mudanças de comportamento, defendida pelos ecologistas e pelas pessoas conscientes do estágio de degradação e da perda de biodiversidade que já sofremos. A arte ambiental quer questionar os estilos de vida, preparar uma nova consciência por meio da sensibilização, alertando e gerando reflexões. E este mercado tem crescido a cada ano.



Art-Eggcident, de Henk Hofstra. Leeuwarden, Holanda, 2008

No audiovisual, nas artes plásticas, na dança, na moda...do comercial ao conceitual...dá de tudo um pouco! Da reutilização de uma garrafa pet transformada em pequeno vaso para horta, da reciclagem de toneladas de caixinhas longa vida que se transformam em bolsas e itens de decoração até a transformação artística de um tronco de árvore morta em peça rara e única, a arte ambiental traz muitas possibilidades de apreciar o belo e melhorar a nossa relação com o espaço natural. Na visão de alguns intelectuais e eco artistas, ela também pode ser a lente através da qual é possível olhar, a partir de uma perspectiva ecológica, os aspectos da sociedade - desde a produção urbana de alimentos, a política climática, o respeito à fauna e flora, a gestão de bacias hidrográficas, infraestrutura de transporte, o design, arquitetura, dentre outros.



A biodanza de Rolando Toro e a reintegração humana.

Friedrich Schiller


Falando em eco artistas, listei abaixo alguns ícones da Arte Ambiental que, empenhados em transmitir a mensagem da preservação, transcenderam a estética, utilizaram em suas obras conceitos da sustentabilidade e da responsabilidade socioambiental e redefiniram a forma de ver arte com a Natureza:



Vik Muniz

Ligado à perspectiva da arte ecológica, onde há o reaproveitamento daquilo que poderia ter virado lixo, o brasileiro Vik Muniz, realizou entre 2007 e 2009, um trabalho artístico que consistia em retratar a vida dos catadores em um dos maiores aterros sanitários do mundo (o Jardim Gramacho, localizado na periferia do Rio de Janeiro). O artista fotografava os protagonistas e, depois, com o próprio lixo reciclável, transformava a imagem em uma obra de arte. Esse ensaio e documentário configuram como um grito de alerta para as condições de trabalho e qualidade de vida humana e animal nestes “calos” das grandes cidades que muitos conhecem ainda como lixões”.

Toda a obra consistiu em exposições itinerantes e um documentário chamado “Lixo Extraordinário” (premiado nos festivais de Sundance e Berlim em 2010), mostra como a reciclagem é uma poderosa ferramenta em mãos criativas.



Lixo Extraordiário, de Vik Muniz. Resíduos transformados em pura arte.

Muniz convidou a comunidade local para fazer parte deste trabalho ligado à arte.

Frans Krajcberg

Dentro da arte contemporânea e ainda na linha da eco-arte, não há como esquecer Frans Krajcberg. Nascido na Polônia e radicado no Brasil expressa todo seu encanto pela natureza em suas esculturas com árvores recolhidas de locais que sofreram com queimadas e desmatamento para dar lugar aos pastos. A obra traz um ativismo implacável e uma denúncia explícita à violência do homem contra a natureza. Seu projeto ambiental recebeu incentivo de editais e patrocínios, sendo reconhecido como “O grito de Krajcberg”.

As queimadas ainda não cessaram. Podemos acompanhar, com profundo pesar, desmatamentos constantes e muito descaso de autoridades e interessados na terra livre de árvores. Até quando? Frans Krajcberg viveu seus últimos anos em Nova Viçosa, onde mantinha seu ateliê no Sítio Natura, cercado pela única porção de Mata Atlântica protegida. Ele faleceu no Rio de Janeiro, em 2017, deixando uma enorme quantidade de obras voltadas para a relação entre arte e meio ambiente e um grito sem fim contra o desmatamento.



Flor do mangue, criada ainda nos anos 60 por Krajcberg

A casa na árvore em seu reduto de Mata Atlântica, onde o artista passou boa parte da sua vida

Joseph Beuys

Outro ativista ferrenho é artista plástico Joseph Beuys, um dos mais influentes artistas alemães da segunda metade do século XX. Fundador do Partido Verde na Alemanha, protagonizou em 1982 o projeto da escultura viva 7000 Eichen (7000 carvalhos).

“A árvore é um elemento regenerador e carrega o conceito de tempo. O carvalho, em particular, porque cresce lentamente e tem cerne sólido. Sempre foi uma espécie de escultura, um símbolo deste planeta”, registra o artista que, na cidade de Kassel, planta o primeiro grupo de mudas de 7000 carvalhos em frente ao Fridericianum.

As mudas são cercadas por altas colunas de basalto que simbolizam, em oposição a elas o que cristaliza se não cresce. Nos cinco anos seguintes, outras tantas árvores foram plantadas na cidade, por escolas, associações locais e moradores. Realmente uma bela ação ambiental em prol da educação, arte e, por que não, paisagismo urbano!



Dia da intervenção artística de Beuys, Kassel – Alemanha, 1982


Carvalhos e as pedras juntos. Kassel – Alemanha, 2008

Alejandro Duran

O fotógrafo Alejandro Duran cansou de ver lixo nas praias e resolveu transformar a sua indignação em arte por meio de um ensaio fotográfico que nos leva a repensar a forma de lidarmos com o nosso lixo. E pensar que boa parte deste lixo que vai para os oceanos vem das cidades...daquele papelzinho que é jogado na rua, à revelia, e que achamos que vai sumir com mágica.

O mais interessante neste ensaio foi que o artista, em algumas fotos, tingiu todo o lixo de cores vibrantes, chamando a atenção para esta catástrofe ambiental que acomete as praias do mundo inteiro.



Duran e as peças de plásticos tingidas para o ensaio. Reserva Sian Ka’na, Caribe – Mexico.

Arte e protesto se unem de vez em quando. Obra do fotógrafo Duran, no Caribe mexicano.

Quantos tons do mar tem o nosso lixo? Olhar fotográfico sobre o lixo nos oceanos.

Chris Jordan

O fotógrafo Chris Jordan é o autor das intrigantes fotografias com objetos comuns que normalmente jogamos no lixo diariamente como tampas de garrafas, lâmpadas e latas de alumínio.

A obra abaixo, batizada de “Plastic Cups” (Copos de plástico), é composta por 1 milhão de copos de plástico – número usado em voos de companhias aéreas americanas a cada seis horas. É muito plástico!!


Plastic Cups, uma das obras mais intrigantes de Chris Jordan

Jordan é também um ativista ambiental e usa a arte fotográfica como protesto.

Foto mundialmente conhecida de Jordan que traz claramente o impacto do lixo nos oceanos.

Javier Abdala e Pedro Dalton

À procura de novas texturas para sua arte, os artistas uruguayos Javier Abdala e Pedro Dalton reutilizaram peças de carros e latarias diversas para criarem sua exposição de quadros “Chapas, tintas Y otras yerbas”. Imagine quantas lindas peças poderiam sair de tantos carros inutilizados que encontramos estacionados por aí?



Amy de lata e eu. Exposição de Abdala e Dalton em Montevideo, 2018

Roderick Romero

O artista constrói casas na árvore e lindas esculturas inspiradas na natureza a partir de sucatas ou materiais reciclados. Construídas com madeira recuperadas, suas construções estão em várias cidades do mundo, principalmente nos Estados Unidos.

Suas criações remetem aos sonhos de infância, afinal, quem nunca se imaginou fazendo travessuras na casinha em cima das árvores?


Romero constrói casas e esculturas de resíduos e materiais encontrados na natureza. Que lindo!

Uma casa na natureza selvagem pra chamar de sua.

Sayaka Ganz A escultora Sayaka Ganz, desde sua infância, foi influenciada por crenças xintoístas japonesas que diz que todos os objetos têm espíritos e aqueles que são jogados fora “choram à noite dentro da lata de lixo”.

Desde que se tornou artista, ela começou a coletar materiais descartados – utensílios de cozinha, óculos de sol, eletrodomésticos, brinquedos, etc – e incluí-los em suas obras de arte. Ganz ordena seus objetos em grupos de cores, constrói uma armação de arame, e depois, meticulosamente, atribui cada objeto para o quadro criando novas formas que normalmente viram animais.

“Meu objetivo é que cada objeto deve transcender suas origens. Este processo de recuperação e regeneração é libertador para mim como artista”, explica a artista.



Ganz e uma de suas obras

Esculturas de cavalos de Sayaka Ganz

Há ainda as obras de arte que são o próprio espaço natural, sem tintas e nem papeis. Neste caso, a natureza é o objeto que se integra à obra. Conhecida como Land art, Earth art ou Earthwork, essas obras são desertos, lagos, planície, cavernas, e os elementos da natureza, como vento ou relâmpagos, que podem ser trabalhados para integrarem a obra. As obras têm caráter efêmero, pois a ação dos eventos naturais consome e destrói os trabalhos. Uma forte influência para esse estilo são os geoglifos (grandes figuras feitas no chão em morros ou regiões planas), como as emblemáticas linhas de Nazca no Peru, os Crop cicles, no Reino Unido e Broken Circle and Spiral Hill, na Holanda.


Jean-Jacques Rousseau


A arte ambiental imprime a sua marca no retrato do cotidiano das pessoas e da forma que vivem e se relacionam com a natureza. Van Gogh e Munch se inspiraram nas mudanças climáticas para criarem Noite Estrelada e O Grito, respectivamente. Ainda outras práticas artísticas, como a land art, eco-arte, a ecologia acústica, o movimento slow food, slow fashion eco-design, bio-art e outros que são entendidos como parte destes esforços de mudar cultura e, de quebra, fazer arte. Sem falar na motivação de artistas que levam suas inquietações para as ruas, transformando-as em uma street art cada vez mais engajada.

O universo artístico é fabuloso. Trabalhar com a ideia da fusão da arte e meio ambiente pode ser uma tendência relativamente contemporânea mas sua alma é tão antiga como a própria relação da humanidade com o seu espaço natural.



Camila Malacarne

Produtora cultural em iniciativas socioambientais

Instagram: @milamalacarne



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